terça-feira, agosto 29, 2006

CAOS EM PENSAMENTOS



Tilintar dos recortes

Era um tilintar suave no começo e era difícil para Juliana distinguir que objeto o fazia. O tilintar passou a ser mais forte era um som de tesoura, pensou Juliana. Sim! Era uma tesoura a recortar. Mas o que recortar? Só ouvia a tesoura. Foi aumentando o tilintar que agora já era um barulho horrível incomodando Juliana. Começou com uma tesoura, depois duas, três agora já não sabia quantas!
A busca por uma visão física das tesouras era angustiante, Juliana queria vê-las mas somente escutava-as. Quero saber o que elas estão recortando, eu quero saber, quero. Ela murmurava pelo quarto a procura.
Andréia, a enfermeira entrou no quarto encontrou Juliana murmurando, agitada andando de um canto ao outro. Que há menina? Hein? O que procura?
A enfermeira era muito paciente com os internos, todos ficavam admirados com a dedicação da moça já que a grande maioria dos funcionários não o eram.
A menina não escutava, nem se quer havia notado a presença da enfermeira. Andréia separou os remédios e o copinho com água.
- Toma menina, tome seu remédio vai ficar melhor .
Juliana escutava aquele barulho ensurdecedor, automaticamente andava pelo quarto até a enfermeira a guiar pelo braço para cama, Sente-se querida, tome isto ficará melhor.
Obediente ou sem notar o que se passava ali Juliana toma os dois comprimidos coloridos e o gole de água. Percebe que o barulho está mais baixo, mais e mais longe...

quinta-feira, agosto 24, 2006

insônia

Não era fácil,
berravam em meus ouvidos,
outros mais conhecidos
chamavam, chamavam

Quero dormir, me deixem dormir
eu implorava em silêncio
Mãe, falava
Irmã,chamava
cada qual que estava na casa me chamava

Não conseguia me concentrar em dormir...

quando de repente uma voz...
voz de criança me diz,

imagina que tá num precipício...
que tá lá no alto
agora se joga
sem medo
vc vai caindo caindo
primeiro rápido
depois vai diminuindo diminuindo
quando chegar lá embaixo vc ja vai ter
dormido
e todos os outros ficarão lá em cima...

vc sabe pq eles ficarão lá em cima?

Tiveram medo de cair e não conseguir dormi antes de chegar lá embaixo...

Me joguei
gritei,
ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
depois a queda foi ficando mais lenta
bem como a voz tinha me dito
quando ia chegando lá embaixo...
...
...
...
...
...
...
dormir.

quarta-feira, agosto 16, 2006

só...

Aqui e só sem ter o que dizer e a quem dizer, mergulhada numa ‘silencitude’ aguda madrugada adentro.
Olho me no espelho e peço, mostre-me algo, nenhuma resposta.
Com a parede a noitinha me encontro deitada na cama tateando a parede no escuro, vejo seus veios frios e ásperos.
Sinto não sentir o poder de tal vida que vim cair. Não noto o preto no branco quando este está escrito morte.
É as juras malucas sem cabimento feitas ao além de nada se importam daqui pra frente. A música do rádio não ajuda.
E num silêncio soturno das 03:00 da madrugada sai a cantar o animal. Berra feito louco contido na certeza de sua convicção. O mais estranho não é a cantoria em plena na madrugada e sim durante o dia quando todos já estão acordados e ele faz valer seu canto que é designado ao acordar das pessoas, acordar cedo e não durante o dia. Sofreria de alguma doença melodiosa melancólica? Ao anunciar o dias várias vezes ao dia com intuito de passar-se mais rápidos as angustias por ele vivida. No demais sobre fazer nas outras horas do dia, quando não está a cantar, fecunda as fêmeas do galinheiro.
Madrugada, quarta-feira, 9 de agosto de 2006

loucura perdida

terça-feira, agosto 15, 2006

rendimento do dia...

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

domingo, agosto 13, 2006

...fragmentos...

Subi, desci, subi, desci
A escada tortuante cercava pela casa
paredes ladrilhadas com dores desconhecidas
corredores cumpridos como pensamentos indefinidos
Ah... se todos ouvissem o que a casa dizia sem palavras...

loucura perdida

sábado, agosto 12, 2006

Despetalando


(foto de Sérgio Bruneto)

Tudo era como uma flor perdendo suas pétalas...
Talvez vivesse a vida delicada demais.

A exposição direta ao sol
lhe fazia mal
O demasiado banho de águas da vida
também lhe fazia mal.

Morria pouco a pouco
tentando respirar...
Mas o ar asfixiava-a a cada suspiro.

Os números contavam as coisas
que por ela passavam.
As pessoas não a notavam
era uma canção silenciosa de funeral.

Grandes mordidas com que o mundo
abocanhava sua vida...

Sentia-se sufocada ...
não conseguia ficar muito tempo por aqui
necessitava de ares novos.
Tinha energias sobrando
tem ficado costantemente pensando
sobre como é angustiante permanecer
em um local em que não se pode...
não se pode sentir-se vivo.
Vegeta mais que os legumes na cozinha
Esta limitada mais que animais no zoológico.

Engolia seco, sentia vontade de fazer algo...


loucura perdida

Salgueiro chorão




Salgueiro chorão com lágrimas escorrendo,
Porque você chora e fica gemendo?
Será porque ele lhe deixou um dia?
Será porque ficar aqui não mais podia?
Em seus galhos ele se balançava.
Ainda espera a alegria
Que aquele balançar lhe dava.
Em sua sombra abrigo encontrou,
Imagina que seu sorriso jamais se acabou!
Salgueiro chorão pare de chorar
Há algo que poderá lhe consolar:
Acha que a morte para sempre os separou,
Mas em seu coração para sempre ficou!

Do filme, My girl.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Deseando Morir



Ahora que lo preguntas, la mayor parte de los días no puedo recordar.
Camino vestida, sin marcas de ese viaje.
Luego la casi innombrable lascivia regresa.

Ni siquiera entonces tengo nada contra la vida.
Conozco bien las hojas de hierba que mencionas,
los muebles que has puesto al sol.

Pero los suicidas poseen un lenguaje especial.
Al igual que carpinteros, quieren saber con qué herramientas.
Nunca preguntan por qué construir.

En dos ocasiones me he expresado con tanta sencillez,
he poseído al enemigo, comido al enemigo,
he aceptado su destreza, su magia.

De este modo, grave y pensativa,
más tibia que el aceite o el agua,
he descansado, babeando por el agujero de mi boca.

No se me ocurrió exponer mi cuerpo a la aguja.
Hasta la córnea y la orina sobrante se perdieron.
Los suicidas ya han traicionado el cuerpo.

Nacidos sin vida, no siempre mueren,
pero deslumbrados, no pueden olvidar una droga tan dulceque
hasta los niños mirarían con una sonrisa.

Empujar toda esa vida bajo tu lengua!
que, por sí misma, se convierte en pasión.
La muerte es un hueso triste, lleno de golpes, dirías,

y a pesar de todo ella me espera, año tras año,
para reparar delicadamente una vieja herida,
para liberar mi aliento de su dañina prisión.

Balanceándose allí, a veces se encuentran los suicidas,
rabiosos ante el fruto, una luna inflada,
Dejando el pan que confundieron con un beso
Dejando la página del libro abierto descuidadamente
Algo sin decir, el teléfono descolgado
Y el amor, cualquiera que haya sido, una infección.

ANNE SEXTON (1928-1974)

terça-feira, agosto 08, 2006

Comodação



Foi um tapa forte que deixou marca. Cinco caminhos na face ainda não seguidos. Mais outro, deixando mais quente a face. No começo era dor, era dolorida toda a situação. Agora já não agia assim, Renê pensava em outras coisas. Uma vez ou outra colocava um rockezinho velho na velha vitrolinha que herdou de Horácio, mas isso só acontecia quando era hora de lembrar de que coisas que viveu. Nessas horas, com o rockezinho de fundo lembrava que não tinha nada para se lembrar e olha que tentava de verdade só tinha uma sensação de lembrança, mas não sabia qual. E sabe o que Renê dizia de Horácio:
- Horácio vc parece controlar as horas...
- Por que?
- Horá- Horá- cio...horas...
Já então mudava de assunto e ia ouvir a música, mas isso quando Horácio ainda era vivo. Depois era só que escutava as músicas. Não havia encontrado ninguém para fazer companhia e no começo depois da morte não queria. Negava qualquer aproximação. Freqüentava algumas baladas, mas não se sentia muito à vontade. Chegava em casa querendo desabar na cama e dormir, mas não conseguia dormir depois de ali ter desabado.
Olha só, tinha um caderno com anotações no começo, eram pequenas mensagens, muito curtas mesmo tipo "Hoje é o dia!", "Foi demais pra mim...", "Hoje não, não dá...desculpe.".
Logo depois passou a ter mensagens maiores quase que cartas. Depois frases soltas irregulares em qualquer canto do caderno com frieza e raiva. E agora no final do caderno já eram coisas mais neutras sem muita importância para um lado ou para o outro. Quase como se compreendesse que a luz e a escuridão habitam juntas o mesmo local.

loucura perdida

domingo, agosto 06, 2006

Fragmentos...

Me sinto como um tubo humano cheio de confetes coloridos. Não sou só vermelha por dentro.
Tenho uma explosão de cores dentro de mim agora.
O sol está raiando tudo que atravessa seu caminho. A sombra se esconde, mas quase não há lugar.
O dia tá parecendo mais elástico, borrachudo talvez? E os nomes se transformando em coisas.
Sabrina se esvai em um rio fininho e cumprido. E Fátima que parece constantemente estar ajoelhada rezando e lutando; Mônica já é um telhado de capela. Capelinha das freiras boazinhas e graciosas orando em nome de todos. Do mundo. Clayton se forma retângulo numa moldura marron e vazia.
E que secura é essa que nunca seca.

27/07/06

loucura perdida