sábado, novembro 04, 2006

SOBRE UM DIA...


"a massa está amorfa... e agora por onde começo?" 

Ganhava-se mais sempre quando deixava-se perder por ruas escuras.
Ali, onde quase ninguém passava achava sempre mais. O ali que era enternecido de nuances acinzentadas porém não apagadas, mas brejeiras.
Parecia ser uma espécie de mistério, que talvez as pessoas por lá só passassem quando ninguém via o outro passando.
O que realmente importava é que com seu guarda-chuva sempre a tiracolo se protegia de tudo, era um guarda-chuva mágico. Magia lá dos tempos da avó, nada podia atravessar aquele guarda-chuva. Foi e era a proteção das mulheres daquela família.
Mas ela sempre se perguntava e sempre perguntou para mãe do que as mulheres da família morriam.
A mãe por sua vez nada dizia, era calada, sempre foi a mais quieta de todas as irmãs.
Andando por ali, testa franzida, cabelos curtos, saia acima do joelho mostrando pernas finas e não tão bem cuidadas. E justamente lá onde ninguém passava quando passa um outro alguém, esse sujeito sem aparência muito normal se aproxima. É roubo. Sim, justo ela que ali sempre ganhava algo iria perder. Lembrou-se da mãe que nunca dizia nada e quando dizia recomendava sempre muito séria, não deixe-se perder este guarda-chuva, deixem que lhe levem tudo que tiver, mas o guarda-chuva não! Sempre muito séria e com o olhar sobre as lentes do óculos. E não é que o sujeito aí sem aparência normal a primeira coisa que tentou agarrar foi o guarda-chuva! E claro, ela agarrou o guarda-chuva e não soltaria por nada e o mesmo acontecia do lado oposto. Ela gritou por ajuda, nada apareceu, então gritou com ele. Dizia que deixava-lhe levar o que quisesse menos o guarda-chuva. O sujeito achou a situação muito estranha e ficou sem saber o que fazer. Então pensou, como pensava pouco logo avistou as pernas não tão bonitas e o sorriso malicioso denunciou o que levaria. Ali onde nada e ninguém passava, pois as horas não existiam, ela se perdeu. O guarda-chuva não, de resto tudo lhe podia se perder. Lá pelas tantas descobriu o que era se perder. Desde de então ali, onde quase ninguém passava, deixou de ganhar e passou a perder-se um tanto assim, como ela dizia aos outros. A mãe séria, sempre calada, mas mais satisfeita de que a menina havia perdido tudo, o guarda-chuva não. Era assim.

Um comentário:

Lady Cronopio disse...

Que escrito bem lapidado, Fab.
Lembrou-me o realismo fantástico dos nossos latinos...
Hummm...
Quem sabe do que as mulheres morrem nessa família?
Fiquei curiosa.
Podia continuar, né?
Beijos e aquela coisa toda.