quarta-feira, maio 09, 2007

Espelho de papel

10 de agosto de ( não consigo me lembrar o ano que estamos...)

A guerra já está acabando, pelo menos é o que se escuta dizer por aí. Sem muitas informações fica difícil acreditar, mas os barulhos de bombas e tiros tem diminuído. A estética das ruas está velha. Muitos reparos terão de fazer para recuperar um pouco da antiga aparência.
Valentin não escreve a três dias, fico preocupada mas o que posso fazer além de rezar e ter esperanças bobas?
Lígia sumiu também, com toda aquela mania de querer fazer algo, será que foi ?
Desde de que a guerra começou Valentin disse para mim não sair de casa e nem ficar olhando pela janela e sempre que baterem a porta, esperar que do outro lado alguém pronuncie a apresentação. Só ele e Lígia batem a porta. Sempre dizem: “ Ana, sou eu Valentin!” ou “ Aninha, sou eu Lígia, abra porta meu bem” . Só que quando o dia está amanhecendo e os barulhos cessam um pouco aproveito para dar uma espiada pela janela. Está passando do escuro para o claro, amanhecendo bem lentamente. Não se vê ninguém na rua. Deserta. A TV esta quebrada, só tenho o rádio que Valentin trouxe quando toda essa coisa começou. Toca sempre as mesmas músicas, são bonitas mas sempre as mesmas e nem mudam a ordem. Notícias da guerra não dão no rádio, perguntei a Valentin porquê e me disse que proibiram, para não ficarem alarmando o povo e evitar possíveis notícias falsas. Fora o rádio tenho algumas revistas velhas e livros que Lígia trouxe. No meio desses livros veio um caderno fino e velho já e um dia mexendo por aqui encontrei um lápis que deve ter sido do antigo morador desse apartamento. Arrisquei-me a começar a escrever algo, nada com muita importância.

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