terça-feira, agosto 08, 2006

Comodação



Foi um tapa forte que deixou marca. Cinco caminhos na face ainda não seguidos. Mais outro, deixando mais quente a face. No começo era dor, era dolorida toda a situação. Agora já não agia assim, Renê pensava em outras coisas. Uma vez ou outra colocava um rockezinho velho na velha vitrolinha que herdou de Horácio, mas isso só acontecia quando era hora de lembrar de que coisas que viveu. Nessas horas, com o rockezinho de fundo lembrava que não tinha nada para se lembrar e olha que tentava de verdade só tinha uma sensação de lembrança, mas não sabia qual. E sabe o que Renê dizia de Horácio:
- Horácio vc parece controlar as horas...
- Por que?
- Horá- Horá- cio...horas...
Já então mudava de assunto e ia ouvir a música, mas isso quando Horácio ainda era vivo. Depois era só que escutava as músicas. Não havia encontrado ninguém para fazer companhia e no começo depois da morte não queria. Negava qualquer aproximação. Freqüentava algumas baladas, mas não se sentia muito à vontade. Chegava em casa querendo desabar na cama e dormir, mas não conseguia dormir depois de ali ter desabado.
Olha só, tinha um caderno com anotações no começo, eram pequenas mensagens, muito curtas mesmo tipo "Hoje é o dia!", "Foi demais pra mim...", "Hoje não, não dá...desculpe.".
Logo depois passou a ter mensagens maiores quase que cartas. Depois frases soltas irregulares em qualquer canto do caderno com frieza e raiva. E agora no final do caderno já eram coisas mais neutras sem muita importância para um lado ou para o outro. Quase como se compreendesse que a luz e a escuridão habitam juntas o mesmo local.

loucura perdida

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